sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O Velho Defronte a Catedral






































Quadrinhos que fiz, sei lá, mais de 10 anos atrás, em homenagem a um velho senhor, que nunca soube o nome, morador de rua, que habitava a calçada em frente à Catedral de Maceió, e de costas para a Assembléia Legislativa, no centro da cidade. Por muitos anos ele viveu ali. O ponto do muro onde ele ficava sentado tinha uma mancha com a forma do seu corpo, uma marca da sua presença, por algum motivo de sua preferência ou necessidade, naquele exato lugar. Marcado, ano após ano. E creio que ficou ali, gravado, por um bom tempo, sua forma no muro, após sua morte/desaparecimento/abdução ou outro destino desconhecido.

Todo mundo com mais de 30 anos deve lembrar do cara. Personagem da cidade, lembro que era mencionado em conversas, nos bares e festas, onde escutei todo tipo de lenda a seu respeito. De que era culto e articulado, bem informado sobre política e que detestava jornalistas (só ele né?). Ouvi falar de estudantes de jornalismo e profissionais que tinham ido tentar uma entrevista com o cara e foram dispensados sem cerimônias.

Não duvido, já que eu mesmo conheci pessoas extremamente profundas e cultas, em uma época bukowskyiana e etílica da minha vida, anos atrás, quando me amarrava em trocar idéia com moradores de rua no oco das madrugadas, em Maceió ou em Sampa, para compartilhar algo, tentar entender a vida do cara, sei lá, coisa de repórter, ou de bêbado, mas tive umas conversas inesquecíveis com alguns desses caras. Hoje sou quase abstêmio, o que me trás grandes vantagens, mas me priva de coisas incríveis como algumas conversas que tive com alguns desses caras. Me arrependo de não ter tentado conversar com o cara da catedral, admito, principalmente por total medo da lenda de seu humor com jornalistas.

Verdade ou mito, deixo aqui minha sincera homenagem aquele velho defronte a catedral.

(Participação especial de Alvinho Cabral, que desenhou uns planetas brilhantes que parecem umas bolas de sinuca :)

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