sábado, 6 de outubro de 2012

Chapada do Araripe – Cariri Cearense

Crato - CE
Crato - CE

Juazeiro do Norte - CE

Depois de uns dias de muito calor e trabalho em Juazeiro do Norte, no cariri cearense, consegui um tempo pra dar um rolé na região e desbravar um lugar que quero conhecer faz tempo, a Chapada do Araripe, dentro do Geopark Araripe. Juazeiro é uma cidade bem interessante, uma vibe desenvolvimentista, indústrias, estradas duplicadas e o Metrô do Cariri que liga a outras cidades como o Crato, um dos meus destinos.

Juazeiro é uma espécie de Las Vegas da fé, 250.000 habitantes, grande e no meio de um deserto, substitua a jogatina e putaria por devoção e romaria, e aí está Juazeiro do Norte. Apesar do clima e paisagem desértica, Juá, como é carinhosamente conhecida, tem água subterrânea em abundância, aliás, toda a região, graças ao verdadeiro filtro de decantação gigante que é a Chapada do Araripe. Estive na cidade durante uma das três principais romarias do ano, a da Mãe das Dores, peregrinação de fé onde vi vários ônibus de Maceió e de toda Alagoas e outros Estados, rumo a Colina do Horto, onde se encontra a Estátua de Padre Cícero, fundador da cidade, profeta, milagreiro e primeiro prefeito do lugar. A Colina do Horto é um dos geosítios do Geopark Araripe, o mais movimentado com presença humana, certamente.


      Colina do Horto, Estátua de Padre Cícero - Juazeiro do Norte 


Aluguei um carro, e peguei a estrada rumo aquela mesona no horizonte. Primeira parada: Crato. Luiz Gonzaga chamava de “Meu Cratim de Açúcar”. Vários amigos de Fortaleza me diziam que eu ia gostar dessa cidade. De fato, é bem mais charmosa e antiga que Juá, e encravada na encosta da Chapada. Depois de uma estudada no bom e velho Google Maps, segui as placas marrons pro Geosítio Batateiras. Lá encontrei uma bela nascente, altas bicas de água mineral, e um clima meio farofa, o que seria melhor do que o deserto de gente que encontraria depois, em outras partes do parque. Mandei um banho gelado de água mineral pra espantar o calor e segui pro meu objetivo naquela tarde: Subir o platô da chapada e conhecer a mais antiga floresta nacional do país, a Floresta Nacional do Araripe, Flona. 

A subida até o platô é bem bacana, estrada asfaltada, baita visual do Vale do Cariri lá de cima. Segui de carro floresta adentro, rodei um pouco, parei, dei uma curtida por ali e vi onde ficava a entrada da trilha do Picoto. Como era fim de tarde, resolvi fazer a trilha no dia seguinte, sábado pela manhã, certamente teria outros visitantes e um clima menos Bruxa de Blair. Bom, assim eu pensei. 

Desci a Chapada, subi de novo por outro caminho, aproveitei a luz do fim do dia, fiz umas fotos, e voltei pro meu hotel em Juazeiro do Norte. Já planejava o roteiro do dia seguinte.

Crato, Barbalha e Missão Velha

Sabadão de sol. Massa. Voltei ao Crato, decidido a encarar a trilha do Picoto. Passei direto na nascente e subi a serra. Cheguei à entrada da trilha, e... cri, cri, cri... a mesma coisa do dia anterior. Ninguém. Ok. Deixei o carro lá fora e caí pra dentro da floresta do Araripe. Andei, andei, mata fechada. Ninguém. Comecei a ficar cismado, depois de algumas bifurcações, me mantive na trilha principal, mas tava ficando meio longe, sozinho, sem ninguém, meu carro lá na entrada de bobeira. Comecei a lembrar do Bear Grylls e do ator James Franco naquele filme 127 Hours. Enfim, desencanei antes de chegar ao mirante que me daria uma linda vista do Cariri e da Chapada e voltei pro carro. Porra, nem um guia? Nem uma pessoa simpática pra receber na casa vazia que fica no começo da trilha? 

Tudo bem. Desci a Chapada meio decepcionado, e fui contornando as formações para mais fotos e em busca de um lugar pra rangar, já passava do meio dia. Encontrei um clube interessante, com umas construções modernistas engraçadas, cravado no sopé da Chapada. Clube Granjeiros, exclusivo para sócios, mas claro que não iriam impedir um simpático turista alagoano de conhecer o lugar. Deixaram-me entrar sem esforço, e me dirigi ao mais afastado e tranqüilo dos três restaurantes do lugar, bem no pé da encosta, visual lindo, natureza e silêncio total. Meu tipo de lugar. Pedi uma tilápia inteira frita, perfeitamente frita, crocante e saborosa na verdade. O peixão veio acompanhado de macaxeiras fritas e baião cremoso. O baião, pelo que pude perceber, é a comida mais típica da região, uma espécie de risoto cremoso de arroz com feijão verde coberto com queijo coalho ralado. Delícia total.

Segui de volta pra Juazeiro, e vendo que ainda estava cedo, continuei em direção ao próximo paredão ancestral, na cidade de Barbalha, 10 Km de lá. Aliás, é essa a média das distancias entre essas cidades. Lá fui atrás do Parque Estadual Geosítio Riacho do Meio. 16:00h e cheguei na porta do parque, mesma coisa de sempre, uma estrutura vazia e sem uso. O “parque” fica em frente a uma zona urbana, perguntei a uma senhora com sua menininha se o lugar estava fechado. “Não está não, é só abrir o portão e entrar”. E esta foi a maior interação que vi entre as comunidades locais e os parques da região.

“Nheeeeeeemmm” rangeu o portão e senti como se um fantasma me deixasse passar. Entrei pela trilha rumo às nascentes e vi um rapaz mexendo em uns canos, pegando água, ou coisa do tipo. Troquei dois dedos de palavra, perguntei se era longe, e continuei na trilha. Encontrei uma bica de água mineral gelada brotando da montanha. Tomei um banho massa, fiquei ali um tempo, mas o clima meio Bruxa de Blair, meio Massacre da Serra Elétrica não permitiu me alongar por demais. Nunca pensei que ia achar tão ruim encontrar tão pouca gente em parques como esses...

Voltei ao centro de Barbalha, fiz umas fotos da Igreja Matriz, e voltei pra Juazeiro.

Abandono

Na manhã seguinte segui para meu último destino, Cachoeira de Missão Velha. Viagem mais longa do roteiro que fiz, rumo a uma cachoeira sem água, por conta da seca. Mais uma das coisas que ninguém informa no site do Geopark Araripe, que a tal cachoeira não é perene. Rodei um montão na caatinga e chegando lá, até que tinha um poço de água verde... e parada. Tinha uma turma tomando banho, “entra aí”, me disseram. Mmmmm, não obrigado, moro na Garça Torta, não vou tomar banho numa poça de água verde parada no meio do sertão. Valeu. 

Minha conclusão é que o Geopark Araripe, como tantas outras iniciativas Brasil afora, viveu um momento de empolgação, apoio da Unesco, blá, blá, blá, pra depois dar com os burros n’água. A região é sim, belíssima, e meu passeio valeu muito à pena, dias de imersão em uma natureza exuberante, do quase deserto aos paredões de florestas, a Chapada do Araripe é linda, mas talvez não tenha o apelo necessário, não atraia tantos turistas, nem conta com o envolvimento das comunidades, o que é fundamental, ocupando jovens guias, fortalecendo artesanato e culinária, etc, etc. Nada disso por lá. Uma pena. 

Ao bem da verdade, não recomendo ninguém a encarar essas trilhas e parques em grupos de menos de 3 ou 4 pessoas, ir sozinho como eu fui, nem pensar. Perigo de se perder, assalto, ou coisa pior, são sítios completamente abandonados. Quando senti o clima, no primeiro dia, fui preparado a partir do dia seguinte: Itens mínimos, apenas dinheiro e carteira de motorista, no máximo me levariam a câmera fotográfica, ok, afinal, pelo menos fotos eu faria do lugar. 

Seria bom que todos os poderes, municipais, estaduais e federais, envolvidos na manutenção dos parques e do Geopark Araripe voltassem suas atenções para este belo lugar. Talvez, se tentarem de novo, de algum jeito certo, resolvendo erros e procurando acertos, quem sabe, um dia eu volte e encontre feirinhas de artesanato e comida na porta dos parques, famílias de turistas e mochileiros, movimentando os lugares e a economia local. Quem sabe. Até lá, para os mais aventureiros e interessados em lugares assim, como eu, boa sorte no desbravamento da Chapada do Araripe e da região do Cariri Cearense. Eu me diverti bastante em minha jornada. Até a próxima.













3 comentários:

  1. Caro amigo eu sou um cara apaixonado por essa região nordestina, onde o povo do Cariri Cearense é terra de um povo simples, religioso e extremamente hospitaleiro. Tive a oportunidade de conhecer essa terra quando fazia pós lá em Campina Grande e me apaixonei por uma cidadã missãovelhence que me levou a conhecer as maravilhas desta região. Estive em Juazeiro do Norte no último dia 30/09 testemunhando o casamento de um grande amigo em Juazeiro do Norte. Desde já parabéns pela maravilhosa matéria.

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  2. Valeu meu caro Marcos Farias. Fico feliz que curtiu a história. Grande abraço.

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  3. Fantástico! Um oásis gigantesto cheio de riquesas e simplicidade do nordeste.
    Deveria mesmo ser mais divulgado e explorado, turismo ecológico, gastronomia,
    artesanato e cultura musical. Fascinado só de ler e ver as imagens e descrições.
    Pratico mountain bike e sou músico.

    Paulo Castro (Est.São Paulo/interior)

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