quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Jr. Black em vermelho, azul e verde


O cantor pernambucano Jr Black (Dj Dolores, Negroove) se lança em vôo solo. O novo disco, RGB, deve sair do forno em breve. Black assuntou comigo sobre o trabalho, rumos da carreira e experiências de sua atuação na música e outras linguagens artísticas como teatro e cinema. Senhoras e senhores, Jr Black!

Marcelo Cabral - Salve Black! O disco vai chamar RGB certo? Pra quando está previsto o lançamento?

Black - Salve, Marcelo! Ok. Estamos na fase orçamentária da prensagem. Em breve ele irá para a fábrica, e aí sairá das nossas mãos, entrando na correria da indústria fonográfica nacional e tal, mas nosso pensamento é de lançá-lo até o final do ano.

MC - A faixa título é um petardo dançante. Baita groove. o disco vai seguir essa linha "dança do antílope africano"? A idéia é essa?

Black - Hahaha! Digamos que o antílope saiu da África para dar um volta em outras savanas. No entanto, minha filosofia musical continua a mesma: Música para divertir, dançar e, eventualmente, no que concerne à condição de letrista, além da ironia e do inusitado, compus umas coisas que tocam temas diversos como o gospel-brodagem, a sensualidade, questionamentos sobre a vida e 'otras cositas más', que quem sacar o disco vai perceber.

MC - Que significa RGB? Como foi o processo de gravação e produção, quem gravou ou participou do disco?

Black - RGB é a sigla em inglês para 'red', 'green' e 'blue' (vermelho, verde e azul), que representa um padrão para a síntese de cores em transmissão eletrônica ou digital. Foi o termo que escolhi para expressar essa nova fase da minha vida, agora solo e mais voltado para a sonzeira que o eletrônico é capaz de fazer, do encontro com novos músicos e de uma visão pluralizada de direcionamentos na carreira.

O processo de composição e gravação foi bastante rápido e colaborativo. Eu me vi inserido mais uma vez num ambiente muito prazeroso de trabalho, onde velhos e novos parceiros deram contribuições bastante valiosas num período de aproximadamente seis meses, contando do fim do inverno no ano passado até o verão de 2009. Agora estamos vivenciando os momentos finais da produção, diga-se de passagem, levada desde o início por outro músico talentosíssimo, que também foi um dos produtores do disco junto ao China e Chiquinho (Mombojó), Homero Basílio.

Além deste caras, participaram musicalmente do disco Felipe S., Marcelo Machado e Vicente Machado (Mombojó), André Édipo e Chico Tchê (ex-Bonsucesso Samba Clube), Dengue (Nação Zumbi), Vitor Araújo, Hugo Gila (Orquestra Contemporânea de Olinda e Academia da Berlinda), Brig82 e Diogão (Pescoço Colorido), Chaps (Albuquerque) e as meninas Catarina Dee Jah e Cláudia Beija... Além disso, ainda tive as chegadas visuais e gráficas de Justino Passos e foto de Marcelo Lyra, e mais uma pá de colaboradores geniais além-disco, como Diogo Guedes, da A Banda de Joseph Tourton, no myspace, Pedro Escobar e André Nunes (Fim de Feira) no vídeo e mais... e por quem sou muito grato.

MC - Depois do Negroove, você trabalhou como vocalista do Dj Dolores, tocou no Brasil e na Europa com ele, como tem sido essa experiência?

Black - Tem sido bastante engrandecedora e saudável. Existe um patamar no universo DJ Dolores onde se leva muito trabalho para chegar e manter. Fazer parte desse momento representa um crivo bastante significativo para a manutenção de um todo que é a minha carreira pessoal. A possibilidade de expansão e aprendizado profissional são grandes aditivos nessa empreitada com Dolores. Quando ele me chamou pra cantar a frente de sua nova formação, o Negroove já tinha suas atividades suspensas há mais de semestre, estava pedindo baixa da guerrilha da Mesa de Samba Autoral aqui em Recife e às voltas com o núcleo Das Caverna e processo de composição de RGB. Pois bem, depois do convite dele, tive apenas 10 ensaios para arrumar as malas e viajar para a Europa, daí dá pra você entender bem do que estou falando.

MC - Em seu trabalho existem várias referências à cultura afro-brasileira e africana mesmo. Você tocou no palco da música negra no Mercado Cultural de Salvador, por exemplo. Você tem algum envolvimento com o movimento afro? Qual a origem desse teu mote?

Black - Eu me envolvi muito com o lúdico das questões afro-brasileiras a partir de 2001, quando ainda era professor de inglês e tocava amadoristicamente, antes do Negroove ainda, e vi um cartaz em frente ao Museu da Abolição, sede do IPHAN local, oferecendo um curso de percussão com Ilú, instrumento muito usado no Xangô, Umbanda e Jurema locais. Eu passei a freqüentar terreiros de Xangô (outro nome para o Candomblé aqui), os eventos da Terça Negra no Pátio de São Pedro (famoso palco das manifestações culturais afro-brasileiras no centro da cidade), a conhecer mestres e outros músicos, e fui me apaixonando, mantendo sempre 'a distância de um cientista', digamos. Li, bebi, comi e conversei muito a respeito com as pessoas certas. Cheguei até a participar de alguns fóruns da ala jovem do MNU (chapa do movimento negro constituído em Recife). Degluti tudo isso mixando a minha realidade de rapaz criado no seio da classe média em um bairro da zona sul chamado Setúbal, ambientes que dificilmente poderiam me prover essa experiência, e criei o Negroove. Foi o máximo que pude fazer de todo o conhecimento que adquiri e foi muito massa!

MC - Você também atua em outras frentes artísticas, como dublagem, teatro, cinema e locução, certo? Uma vez assisti um curta de animação, “O Jumento Santo e a Cidade Que Se Acabou Antes de Começar”, em uma mostra do projeto Acenda Uma Vela aqui na praia de Garça Torta onde moro em Maceió, e lá estava você, dublando o jumento certo? Fale um pouco sobre essas suas atividades.

Black - O teatro me veio primeiro, no começo da década, através do contato com o diretor Marconi Bispo, que conheci durantes os anos da minha peregrinação na afrobrasilidade e tal. Participei da direção musical e tocando em duas peças dele que tinha a ver com tudo naquele momento: um espetáculo musical chamado 'Ago Mojubá', que rolou no SESC Casa Amarela, e uma releitura umbandística para 'McBeth', de Shakespeare, no teatro Hermilo Borba Filho.

Dublagem é um sonho antigo, mas morar em Recife torna tudo inicialmente muito difícil de acontecer pela inexistência de um mercado consistente, laboratórios etc. No entanto, há alguns anos vem se configurando um núcleo de animação digital da pesada por aqui (Faculdade AESO Barros) e rolou a oportunidade de ser dirigido por William Paiva, Léo Domingues e uma galera neste projeto belíssimo, do qual tenho muito orgulho de ter feito.

No cinema a mesma coisa: do contato com os amigos da Símio Filmes (esfinge de uma pá de talentosíssimos jovens cineastas locais), eles viram um potencial em mim no campo da atuação/narração, e então trabalhei no primeiro longa de Daniel Bandeira chamado 'Amigos de Risco', com Rodrigo Riszla, Paulo Dias e Irandhir Santos e no 'KFZ-1348', de Marcelo Pedroso e Gabriel Mascaro. Recentemente, fiz locução pro 'Pacific', novo filme de Pedroso, e atuei no primeiro trabalho de Juliano Dornelles como diretor, o 'Mens Sana in Corpore Sano', bem como de 'Recife Frio', ficção de Kléber Mendonça Filho, outra pedra pesada da tela grande, que aconteceu porque ele viu minha atuação nos trampos da Símio. Uma coisa leva a outra. E ah! Acabei também de dublar duas personagens em mais uma nova animação de William em parceria com Pedro Sevérien, que está no forno já e se chamará 'O Homem-planta'. Atuo no mercado publicitário local em spots para TV e rádio, majoritariamente para um estúdio classe A chamado Onomatopéia, e essa tem sido uma grande escola também.

MC - Cara, você tocou com o Genival Lacerda! Sou fã dele! Como que foi isso?

Black - Véio, nem me diga! Genival é um monstro do tamanho dele, um cara que bateu muitos cartões-de-ponto na construção de parte significativa da música brasileira como um todo. Foi tudo muito rápido e aquém do que eu esperava ser esse nosso encontro durante um evento realizado no São João do Recife, muito pela condução de tudo nos bastidores e da forma como produzem atualmente seu show (que não tem mais nada a ver com aquilo que ouvi nos seus LPs cascas quando menino) do que qualquer outra coisa, e da qual a figura de Genival está muitíssimo acima, mas que me marcaram muito negativamente na ocasião; não houve sequer um ensaio ou um cuidado em sermos decentemente apresentados, só para constar. Acho que cantei duas músicas com ele, enquanto o público dançava enlouquecido e suas dançarinas despejavam malícia num palco alegre e colorido. E por essas e outras acho que a ficha nunca vai cair.

MC - Com o lançamento do novo trabalho, quais as perspectivas para este segundo semestre e 2010?

Black - Iniciamos o trabalho de shows ainda sem o disco. O debut se deu na segunda noite do Coquetel Molotov em setembro deste ano, e fizemos uma segunda apresentação semana passada. Estamos azeitando tudo com uma banda enxuta e dinâmica, e as perspectivas agora são quase que estritamente divulgacionais. Tem muita gente envolvida no processo e desejamos tocar e trabalhar muito. Alea jacta est.

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