segunda-feira, 24 de março de 2014

Nick e a música imortal



Uma boa forma de alcançar, em algum grau, uma certa imortalidade, é escrever canções. Sempre acreditei nisso.

Cris Braun e Billy Brandão demonstraram minha teoria nas noites de 18 e 19 de março, no Espaço SESC Copacabana, quando pintaram de rosa a lua sobre o céu do Rio de Janeiro, ao recordarem a obra de Nick Drake, autor de Pink Moon, em um show absolutamente arrebatador, comovente, lindo, lindo demais…

"Nick" foi o nome do show e do compositor folk inglês que, frustrado e sem reconhecimento, morreu em 1974, aos 26 anos. Segundo o atestado de óbito, ele cometeu suicídio ao consumir uma mistura de anti-depressivos, "em uma casinha, em uma cidadezinha qualquer da Inglaterra", como diz Cris durante a apresentação.

Sem dúvida, a história do compositor é muito triste, ou "irônica" como ela mesma comenta, ao recordar sobre um certo reconhecimento tardio da obra de Drake, quando sua música, Pink Moon, foi veiculada em uma propaganda de carro para TV, em 1999. "Que ironia, um suicida vendendo carro", dispara Cris Braun, ao mesmo tempo com graça e melancolia.

Mas além da tristeza que envolve a curta e produtiva trajetória de Nick Drake, apesar da morte prematura, existe a confirmação dessa magia, essa coisa da imortalidade da qual falei. Quer dizer, o cara morreu sem reconhecimento, frustrado e deprimido aos 26, ciente de seu talento e da força criativa de sua arte, e ainda assim, mais de 30 anos depois de sua morte, uma outra artista incrível, do outro lado do Oceano Atlântico, no hemisfério oposto, consegue reunir um monte de gente ao redor da sua música.

É a arte como caminho para a imortalidade.

O que é bom e atemporal, fica, não tem como impedir. É como se tivesse vida própria, uma força além do seu criador, para sobreviver e resistir, até que algum diretor ou editor audiovisual resolva usar aquela canção como trilha sonora de uma propaganda de carro, ou seja lá o que for. Alguém vai ouvir, vai lembrar, vai tocar. Afinal, música de verdade, que toca o coração das pessoas, é feita com a alma, e a alma, como a canção, é imortal. Amém.

Durante duas noites, fãs orfãos de Drake e pessoas que nunca tinham ouvido falar no cara, receberam esse presente de Cris Braun e seu parceiro musical, Billy Brandão. Destaque para a formação precisa de cordas, os arranjos brilhantes executados por Billy Brandão e João Gaspar, e em especial, o violoncelo de Hugo Pilger, que conferiu a atmosfera exata para a sonoridade das canções. O roteiro do espetáculo é de Rodrigo Penna, e os textos que conduzem a apresentação são assinados pelo jornalista Arthur Dapieve. A direção musical e os arranjos são de Billy Brandão.

Tenho certeza que, assim como eu, várias pessoas que receberam esse presente deles, está ouvindo Pink Moon sem parar, em algum "Full Album" de Youtube e agradecendo a você, Cris Braun, a quem tenho orgulho de chamar de amiga. Eu te agradeço, acredito que Nick Drake também.

Bravo!!!

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