terça-feira, 14 de agosto de 2012

Maceió Rock 90


Eduardo Quintela ao vivo no FMI.
E no princípio, era o Living in the Shit...

A história do rock nos anos 90 em Alagoas, especialmente em Maceió, começa sem dúvida com o Living in The Shit, banda de origem no hardcore e importante naquele cenário tão enérgico e frutífero da pequena capital à beira mar. Não só por terem se destacado ao cruzar fronteiras tocando por vários estados e regiões, e na TV em rede nacional, etc. mas pela diversidade que aquele som e aquela atitude dos caras traziam. Era o fim da era “turma do metal contra turma dos punks”, e veio o tempo do crossover, da mistura, do encontro, que sem dúvida, influenciou outros grupos contemporâneos em Maceió como Ball, Mental, Dread, Santo Samba e outras tantas bandas alagoanas.

Além de tudo isso, o pessoal do Living, sobretudo o Eduardo Quintela e sua guitarra alucinante, tiveram participação fundamental na construção de uma sonoridade que viria a caracterizar o manguebeat, ou ainda um pré-manguebeat. Ao lado da banda Eddie, notórios olindenses que, dada a proximidade, quase integram esta cena alagoana, rodaram um bocado na AL 101 Norte tocando em Maceió, Recife e Olinda. O Gastão Moreira, ex-Vj da Mtv, afirmou em apresentação do Living in the Shit no programa Musikaos, da Rede Cultura, que Eduardo era “o melhor guitarrista wah-wah do país”. A banda lançou várias fitas demo como “The World Ass Rock”, “Quentura” e o primeiro, único e indispensável álbum, “Chá Magiológico”! Os punks de Maceió (!?) na época detestavam o Living. Eram “traidores do movimento”, eles diziam. Ainda bem!


               Galera de Maceió no show do Living em Olinda. Nascimento do Rec-Beat.

Oi, oi, oi!!!

Falando em punks conservadores e turma do metal, duas bandas são emblemáticas nesse sentido em Maceió e nos anos 90: Misantropia e Morcegos. Verdadeiras instituições, estandartes, autarquias ao representarem o hardcore (de verdade, diriam alguns) e o metal extremo (ou extremista, diriam outros). Misantropia e Morcegos são bandas que nunca vão terminar, nunca vão fazer sucesso, nunca poderão parar com isso ou mesmo se preocupar em serem esquecidas ou lembradas. Afinal, aquilo ali que é a mais autêntica expressão artística, descomprometida, livre, verdadeira! Acho que os Morcegos já vão pra mais de 20 e tantos anos de banda (ou mais) e recentemente o Misantropia lançou um CD com todos aqueles clássicos do punk alagoano, depois de todo esse tempo.

“Open the Door... Avoidêêêêê”

Nenhuma das bandas citadas até agora tinha o prestígio e a popularidade do Avoid na Maceió daqueles tempos, grupo que oscilava entre o thrash metal quando queriam ser pesadões, e o hard rock farofa quando pensavam em ser pop. A música que levava o nome da banda era cantada em uníssono pelo público numeroso, com direito até ao isqueiro aceso e mãos para o alto, algo imitado das transmissões da Rede Globo de grandes eventos internacionais como Rock’n’Rio e Hollywood Rock. O batera dessa banda, Enio Luciano, é outro personagem importante daquela história toda. Dono da Rock Shop, no centro de Maceió, Enio era responsável pelo comércio de vinis e CDs que víamos apenas em revistas como Rock Brigade e Bizz (não tinha Google amigo, nem Myspace), e vendia também um bocado daquelas camisetas pretas de bandas gringas. Além disso, Enio produzia a maioria dos shows de rock com artistas locais e atrações maiores de fora do estado como Raimundos e Sepultura, por exemplo. Opiniões divergem a este respeito, mas pra mim, o cara foi um baita empreendedor do rock! Já o guitarrista do Avoid, Raphael, atualmente faz parte da dupla sertaneja Raphael e Gabriel. O baixista Myro Rodrigues continua a ser o que sempre foi pros seus amigos: Um cara fodão e figuraça!

Acendendo lampiões

    Mental ao vivo: Alvinho, Felipe, Douglas, Eu e Maurício.

Havia certa efervescência em Maceió naqueles anos 90, muitos turistas, gringos, verões lotados, muitas baladas, luais e lugares para tocar com sua banda (comparado com hoje, tinha uma porrada de lugares pra tocar com sua banda). Havia hits de fitas demo como “Avoid”, já citada, “Quentura” do Living in The Shit, “Último Dia do Rio” do Ball, “Só”, do Mental, minha própria banda naqueles tempos, e, é claro, “Nobody Knows Smith”, dos quase-britânicos 70th Blight, grupo que agitou um intercâmbio importante com cenas de outros estados ao realizarem o Festival Acendedor de Lampiões em Maceió, nome que faz referência ao poema do alagoano Jorge de Lima. Com isto, os caras do 70th Blight trouxeram para a cidade várias bandas de todos os lugares, como o Oito, de São Paulo, que viria a tocar em Alagoas outras vezes e manter contato e produção de longo prazo com os músicos da nossa cena local.
                                      
Oito ou oitenta

Foram os membros daquela banda, Oito (Thiago Nistal, Fipa Vasquez, André Corradi, André Lima, Felipe Nistal), que receberam em suas casas em São Paulo, no começo dos anos 00, as primeiras incursões dos artistas sobreviventes daquela cena de Maceió dos anos 90. A busca por novos rumos levou muitos de nós para a cidade onde os caminhos da música costumam tantas vezes levar. Entre eles, Sonic Junior, formado por Juninho, ex-baterista do Living in The Shit, e pelo ex-guitarrista do Ball, Aldo Jones, que hoje toca comigo no Coisa Linda Sound System. Essa galera do Oito também foi um porto seguro em Sampa para o ex-vocalista do Ball, Wado, que também iniciara um projeto solo em parceria com o ex-guitarrista do Mental, Alvinho Cabral, atualmente no Fino Coletivo. Thiago Nistal e André Corradi gravaram e tocaram com Wado ao vivo, e a galera toda do Oito participou em São Paulo das gravações do meu primeiro trabalho depois do Mental, “Marcelo Cabral e Trio Coisa Linda”, e sou muito grato a eles por isso. São grandes amigos. Hoje e sempre.


                               Ball ao vivo em 1998. O baixista Renato e Wado.

Outras bandas importantes surgiram como Mopho e Xique Baratinho. Mas os anos 90 chegaram ao fim, e com o final da década, a maioria das bandas daquele período também encerrou suas atividades.

Ficaram as canções e os novos projetos que nasceram dali. Agora, é uma nova história.

Despeço-me por aqui com uma das canções que ficaram. E só.  

                         SÓ - MARCELO CABRAL +20

Foto 1 por Marcelo Albuquerque. Foto 2 cedida por Paula Padilha. Foto 3 por Eduardo Proffa. Foto 4 por Erika Moraes. 

2 comentários:

  1. Me recordo dos shows de rock no cheiro da terra na jatiuca. Tempos bons!

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  2. Me recordo dos shows de rock no cheiro da terra na jatiuca. Tempos bons!

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