terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Pelo fim do "nordestino"

(Texto publicado originalmente no Overmundo em 30/01/2007)

Muito se fala sobre o preconceito que os nordestinos sofrem nas grandes capitais do sudeste, mas em minhas andanças por essas bandas, vi pouco disso na verdade. Claro que sou nordestino fajuto, nasci na cidade de São Paulo, mas tive minha formação em Maceió, capital do estado de Alagoas, desde os três anos de idade (ou seria um paulista fajuto? Ou ainda um alagoista?).

Preconceito declarado, discriminação mesmo, nunca vi, mas um desconhecimento inacreditável da mais básica geografia brasileira, isso muito.

Não posso contar, nos dedos das mãos e dos pés, quantas vezes me encontrei nesta situação: Alguma festinha ou reunião de qualquer natureza, onde algum cidadão, minutos depois de me conhecer (quem apresenta já diz de onde você é, como um sobrenome, mas nada contra) chega e me pergunta: “sim amigo, mas lá em Fortaleza, tal e coisa?” como se fosse na esquina da minha casa! Então eu respondo que Fortaleza está tão distante de Maceió quanto Belo Horizonte (aproximadamente).

Aliás, foi lá em BH que uma vez um amigo do meu amigo me disse “poxa, você é do Nordeste, quando passar pela Passarela do Álcool, lembre que eu blá blá blá, num sei o quê por lá”. Respondi pra ele que nunca estive em Porto Seguro, ele achou estranho, por eu ser nordestino, mas expliquei que a tal Passarela é bem mais perto de onde ele mora que Maceió algumas centenas de km. É do lado de BH.

Muito sujeito cheio de título, curso disso e daquilo, já chegou pra me perguntar se Maceió é a capital de Aracaju, entre outras atrocidades. Ajuda aí né amigo? Se fosse uma coisa rara de acontecer, vá lá, tudo bem, mas acredite, é constante e corriqueiro.

Muito me estranha que o carioca seja carioca, com sua identidade e lugar no espaço territorial desse Brasil nacional, e não sudestino. O carioca é carioca, o mineiro é mineiro, tal qual o paulista e também o capixaba. Ninguém é sudestino.

Essa coisa do termo “nordestino”, e até do orgulho de sê-lo, é um tanto equivocada, coloca todo mundo no mesmo saco de farinha, da mesma forma que as generalizações “baiano” e “paraíba”, tão usadas em São Paulo e Rio de Janeiro respectivamente.

Nada contra os baianos e os paraíba(nos), muito pelo contrário, mas, bem, eu sou alagoano, não porque isso seja lá grande coisa, sem essa de nacional-fascismo do tipo “minha terra, minha cultura e minha praia são melhores que as dos outros. Se discordar, peixeira”. Nada disso, é uma questão de dar nome aos bois mesmo, e de recuperar aquelas aulas de geografia que, sem dúvida, muita gente Brasil afora matou ou bombou forte.

Esse termo, tão usado, tão comum, o “nordestino”, alimenta a preguiça em relação a pensarmos melhor o nosso País, conhecê-lo o mais de verdade possível, sem colocar “aquele amontoado de estados pequenos”, seus povos e culturas, sotaques e costumes, na mesma categoria: “Os nordestinos”.

De Maceió até Recife são menos de 300 Km, Alagoas já fez parte da capitania de Pernambuco. No entanto, em Maceió, eu vou à casa DO fulano, e em Recife eu vou à casa DE beltrano, entre todas as incontáveis diferenças. E viva a diferença!

“O nordestino” é uma construção cultural e histórica que perpetua o preconceito de uma forma muito sutil. Portanto eu digo: Pelo fim do nordestino! Vamos acabar com isso gente, deixa dessa...

Antes de terminar, preciso contar mais um causo desses, um dos meus preferidos. Estava hospedado na casa de uma amiga de Alagoas que vive em Porto Alegre. Nessa época, ela morava com uma estudante de Relações Exteriores (!) gaúcha de vinte e poucos anos que me disse o seguinte: “Antes de morar com uma nordestina, eu pensava que o nordeste era ali onde tem a seca e aquela coisa toda...como chama mesmo?” eu respondi “sertão” e ela continuou “isso mesmo, achava que o sertão era o nordeste e que o norte era ali onde tem aquelas praias tropicais bonitas com coqueiros”.

E pra acabar com a conversa: um brinde aos paraibanos, pernambucanos, potiguares, cearenses, baianos, sergipanos, alagoanos, maranhenses e piauienses!

4 comentários:

  1. Sou de Natal-RN e por razões profissionais moro em SP há 3 anos. Uma vez minha irmã veio me visitar e estando num shopping em Campinas-SP, entrou numa loja ppra perguntar o preço de algumas roupas e a vendedora após uma curta conversa perguntou: "Você tem um sotaque diferente... de onde você é?". Minha irmã: "Do Rio Grande do Norte". A vendedora: "Sei... É vizinho ao Rio Grande do Sul né?". Minha irmã: "Se você dobrar o mapa no meio...". É impressionante o desconhecimento de geografia com que me deparo...

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    1. Hehehe, impressionante. Deve ter confundido com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul né? Estupidez total, é bem ssim mesmo. Valeu!

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  2. Gostei dessa postagem Marcelo.
    Sou um alagoista porque sou ALAGOano de coração e paulISTA de nascimento.
    Hoje trabalho em São Paulo mas mantenho a minha vida em Alagoas

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  3. Gostei dessa postagem Marcelo.
    Sou um alagoista porque sou ALAGOano de coração e paulISTA de nascimento.
    Hoje trabalho em São Paulo mas mantenho a minha vida em Alagoas

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